Investir em Gestão do Conhecimento – Revista Conceito Jurídico

KM 2Para responder a algumas questões precisamos inicialmente conceituar conhecimento, sua gestão e sua utilização. Conhecimento é o ativo de maior valor que uma empresa pode ter. Reparem que utilizei o termo conhecimento e não informação, que o relacionei a um ativo e que também escrevi “pode ter” em vez de “tem”. Isso porque conhecimento é totalmente diferente de informação e, para possuí-lo, a empresa precisa se organizar e se preparar.

Nunca se teve acesso tão fácil à informação como atualmente (qualquer ferramenta de busca na internet responde, normalmente, a uma pesquisa com milhares de documentos, num tempo dificilmente superior a um segundo), o que não quer dizer que as empresas estão mais eficientes ou produtivas do que há dez anos por conta disso. Então, para que serve tanta informação? A identificação exata das informações relevantes e, principalmente, sua utilização prática incorporada aos produtos e serviços de uma empresa é que vai alavancá-la no mercado. As informações somente terão utilidade se forem triadas, tratadas, organizadas, distribuídas internamente e seu uso prático incentivado. As informações assim selecionadas representam o conhecimento da empresa, enquanto o processo compreendido entre sua identificação até sua utilização prática é a gestão desse conhecimento.

Fazendo uma analogia com os ativos tangíveis de uma empresa, a decisão de investimentos nesses ativos normalmente tem como objetivo o aumento/otimização da produção; a minimização dos custos de produção; a fabricação de novos produtos; a incorporação de inovações tecnológicas, ou seja, a criação de uma vantagem competitiva de seus produtos em relação à concorrência. O “ativo” do qual estamos falando é o seguinte: conhecer o mercado melhor que os outros e reagir mais rapidamente a ele; conhecer os pontos fortes e fracos da concorrência; conhecer e incorporar rapidamente as inovações tecnológicas nos produtos; saber exatamente onde e como estão organizados os dados e as informações pertencentes à empresa e, finalmente, conhecer as pessoas que detêm conhecimento relevante para a empresa. Esse conhecimento é o nosso ativo! No mercado atual, os produtos estão cada vez mais “homogeneizados” e ao mesmo tempo especializados em função das necessidades dos diferentes segmentos e estratificações da sociedade. As diferenças por conta disso são cada vez mais sutis e a agilidade na identificação das necessidades específicas e a rapidez na incorporação dos pequenos diferenciais competitivos dos produtos (e serviços) é que coloca uma empresa na vanguarda do mercado. É nesse contexto que entra o conhecimento e sua gestão.

Um dos mais clássicos exemplos de aplicação prática da gestão do conhecimento é a de uma das maiores cadeias de supermercados do mundo, onde todas as compras de seus consumidores são tabuladas, organizadas das mais diversas formas e esse conhecimento é utilizado para basear todas as decisões da empresa, desde compras e estoques, estratificação e distribuição dos produtos em suas filiais até suas promoções de vendas. A decisão do investimento em ativos normalmente é tomada em função da taxa de retorno sobre o capital investido (ROI) num determinado tempo, calculada com base numa expectativa de aumento de receita causada por aquele investimento. Na gestão de conhecimento também há uma expectativa de aumento de receita. Porém, o processo é invertido, ou seja, o investimento é que é calculado em função de uma taxa de retorno (valor máximo a ser investido). Em outras palavras, na primeira situação o investimento é conhecido (novas máquinas, fábricas, sistemas), o aumento de receita é uma expectativa e a taxa de retorno calculada. Ocorre, então, a decisão. Na segunda, o valor do investimento é que é calculado em função das mesmas variáveis. Simples? Absolutamente NÃO!

Para ter uma ideia da dificuldade considere que a gestão do conhecimento:

• envolve todos os processos da empresa (desde pesquisas de mercado, passando por compras, materiais utilizados, processos construtivos, armazenagem, distribuição até marketing e vendas);

• envolve principalmente pessoas e seu treinamento

• sua utilização afeta os resultados da empresa como um todo, e

• é uma filosofia de trabalho e por isso deve ser incorporada com o modo de pensamento e atitude de todos as pessoas da empresa e, por fim a decisão de investimento nela se mescla com decisão de investimento em outros ativos.

A decisão de “investir” e de “quanto investir” em gestão do conhecimento, na realidade, não é uma situação estanque que se toma de vez em quando, como as decisões de investimento em outros ativos. É um processo constante e contínuo no qual todas as decisões diárias levam sempre em consideração a utilização de processos que contribuam para o fortalecimento do principal ativo da empresa: o conhecimento. Como é contínuo, o processo decisório, na verdade, se transforma num conceito ou numa filosofia sobre onde e como investir os (normalmente) limitados recursos de uma empresa. É um processo de “refinamentos sucessivos”, em que o aprendizado anterior é utilizado para basear as decisões futuras.
POR JOSÉ PAULO GRACIOTTI, consultor com 28 anos de experiência na implantação e gestão de escritórios de advocacia

REVISTA CONCEITO JURÍDICO – ano I – nº 2 – fevereiro de 2017

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